quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Da fantasia a realidade


Após uma vida inteira de leituras e filmes, parei para reparar na influência que eles exercem e exerciam em minha vida. Cheguei à uma pequena conclusão, às vezes fugimos da realidade para tentar fazer da nossa existência uma pequena história.Ou seja, ocorre uma transmissão de desejos e idéias expressos na fantasia para o mundo real.A arte de sonhar e trabalhar nossa imaginação é muito boa,mas as vezes podemos nos confundir nesse emaranhado de magia e ficção.
Sempre que assistia um filme ou lia um livro,na minha infância, eu ficava com um desejo enorme de viver tudo aquilo, como se a realidade não tivesse graça e o mundo mágico fosse maravilhoso.Ainda bem que com o tempo percebi o valor do mundo efectivo e passei a vivê-lo verdadeiramente.
O problema é que muitas pessoas não conseguem se desvirtuar da fantasia, já que nelas encontram todas as possibilidades de viver.Isso não quer dizer que na vida delas não existem chances de mudanças, e que elas não podem se transformar naquilo que desejam.Realmente seria muito bom se nossa realidade fosse mágica cheia de aventuras, mas o caso é que não é. E não adianta passarmos a vida inteira sonhando como nossa vida deveria ser, estamos fugindo da nossa própria existência sem ao menos nos dar a chance de construí-la. Desistimos do nosso mais precioso bem por algo utópico.
O fanatismo pelo fantástico tem ocorrido com muita frequência na classe mais jovem,talvez por julgarem que esse mundo não tem graça, mas mesmo assim para mim parece uma contradição. Pensemos...Por que alguém daria mais importância a imaginação de sua vida do que ela própria? O motivo que eu encontro é que as vezes nossa realidade pode ser muito dura e fica mais fácil fugir para dentro de nós mesmos do que enfrentarmos a vida.Contudo, ao mesmo tempo que fugimos para o interior do ser passamos a viver em um processo utópico e alienante. E na minha visão seria contradição tudo isso, pois de certa forma já vivemos em processo alienante na nossa vida externa,ou seja, alienação externa e fuga para alienação interna.
Não que eu ache que quando nos voltamos para o nosso interior estamos nos alienando,pelo contrário, quando me refiro a voltar para si é algo bom porque estamos dando voz a nós mesmos, esquecendo do barulho e da influência externa.E isso é diferente da expressão fugir para o interior, pois essa última é um sistema de fuga que ocorre pela negação da realidade externa,sendo isso nada bom.
Não sou contra a imaginação ou o sonho,só acho que eles são algo que nos dão esperança por alguma coisa melhor, e não a transformação para uma realidade concreta como muita gente faz.Talvez nesse mundo moderno falte um pouco de espaço mágico para os sonhos, é tudo tão controlado e racional.Se fosse para escolher como minha vida poderia ser, eu diria que seria algo celta com batalhas épicas,mas como não é,não vou me vestir de celta e fingir que vivo em outra era.
Mas sei que posso guardar o místico com o heróico em alguma parte da minha vida,fazendo a minha fantasia se tornar um pouco mais real.

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