sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Trilogia da desconstrução III



Nesses traços escassos, retorno no tempo e vejo aquele retrato amarelado sobre a mesa tirado em algum lugar do passado. Sinto o cheiro da lasanha, sinto por um breve momento o sabor da felicidade. Nesses breves desenlaces da minha infância, percebo o passado, sinto o seu sabor, o cheiro das horas e as areias do tempo que escorrem sobre a minha mão. Me sinto distante, algo que incompleta, sinto que parte de mim se perdeu naquele tempo. Vou para ele, para as horas em que eu podia ser eu e, os minutos que dançavam por entre os meus sorrisos. E de tanto voar cai no mar, na imensidão de mim mesma. E entre as suas águas nadei, sob a suas ondas turvas mergulhei e naquele oceano azul e profundo submergi...

No infinito silêncio daquelas águas percebi a riqueza da vida, a riqueza da natureza e, por fim a riqueza de mim mesma.

Trilogia da desconstrução II



Na profundeza das minhas revoltas eu me perco. Sob ondas de mágoa, raiva e ressentimento eu me afogo. E nesse mar turbulento eu me recordo, dos motivos que fizeram meu barco naufragar, minha âncora afundar e a correnteza me levar. Nesse lugar o tempo não existe, o passado, o presente e o futuro estão unidos em um só. Não existe realidade, nesse oceano de ilusão sem fim, só existem os sentimentos, reflexos de uma história esquecida, amargura sentida num amanhecer sombrio. E sob essa luz crepuscular, percebo que o medo se tornou o peso que teima em me puxar. E num lampejo de consciência tento me soltar, corto fora a corda, cuspo a água pra fora e quando volto a respirar, vejo uma aurora reluzente e lá no horizonte a Barca de Caronte vindo me buscar.

Trilogia da desconstrução I




Quando os anos passam e você se olha no espelho e percebe que seus olhos, seu nariz, sua boca, não possuem as mesmas expressões e contornos de outrora. Você termina por perceber o quanto a vida te mudou. Não foi a idade, através dos seus aniversários, nem o clima, através das estações, mas foram os problemas que te moldaram e te deram essa cara nova que você enxerga no espelho. Eles te construíram através da desconstrução. E através dos cacos arrumados, é que você transparece seu olhar. E isto é algo que só os seus olhos podem ver. Somente eles neste profundo olhar é que tentam identificar que você foi e quem você passou a ser.

Trilogia da desconstrução III

Nesses traços escassos, retorno no tempo e vejo aquele retrato amarelado sobre a mesa tirado em algum lugar do passado. Sinto o che...