segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Pseudo juízes sociais



Qual o significado de um rosto?
Representa a personalidade ou um padrão de beleza?
Tenho pensado a respeito de conceitos. Não sei ao certo quando surgiu a atual padronização das pessoas. Pode ter se delineado com a religião, e ficado mais forte com o aparecimento da indústria. Existem muitas teorias sobre isso, mas a minha teoria talvez tenha um caráter mais intrínseco. Constantemente rodeamos nossa vida com padrões, esteriótipos definindo coisas abstratas como liberdade, sucesso, beleza,etc.
Com o passar dos séculos chegamos ao ponto de olhar para alguém e julga-lo, defini-lo e retratá-lo. Nos tornamos senhores da moral,juízes sociais, me refiro a moral porque ela norteia os costumes que caracterizam as tendências sociais. Como por exemplo: as regras éticas. Chegamos ao ápice do egocentrismo julgando a vida de um ser.
Velhos costumes sociais geralmente demoram muito para acabar, infelizmente. A Idade Média continua fresca em nossa memória, só que ao invés de pessoas queimarem na fogueira, hoje elas queimam nos círculos sociais. Estamos em época de confraternização, e o principal assunto que existe nas reuniões é a vida alheia. Não interessa em qual festividade você esteja, o assunto fútil sempre é o mesmo.
E eu me pergunto o quão vazia nossa vida é para deixarmos ela sempre de lado para falarmos da dos outros?
Pobres vidas essas, realmente pobres.
Eu só me pergunto qual é o sentido de nos confraternizarmos para julgar os outros, de criarmos padrões para suprirmos o nosso vazio interno. Acredito que não seja só a natureza gregária e a hipócrita necessidade de falarmos da vida alheia que nos mantém juntos.
Existe algo maior, a evolução em grupo. Não importa se é natal ou páscoa, uma época de confraternização existe para a troca de experiências,ou seja, a celebração do crescimento em grupo. Também não importa como fisicamente são as pessoas reunidas, rostos e roupas nunca foram padrões para inteligência. A humanidade já tem um tempo relativo de existência, então, já passou da hora para ela amadurecer, fazendo com que cada um cuide de sua vida.
Um dia, finalmente, as pessoas serão senhoras de si, e não falsas juízas da boba vida social.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Da fantasia a realidade


Após uma vida inteira de leituras e filmes, parei para reparar na influência que eles exercem e exerciam em minha vida. Cheguei à uma pequena conclusão, às vezes fugimos da realidade para tentar fazer da nossa existência uma pequena história.Ou seja, ocorre uma transmissão de desejos e idéias expressos na fantasia para o mundo real.A arte de sonhar e trabalhar nossa imaginação é muito boa,mas as vezes podemos nos confundir nesse emaranhado de magia e ficção.
Sempre que assistia um filme ou lia um livro,na minha infância, eu ficava com um desejo enorme de viver tudo aquilo, como se a realidade não tivesse graça e o mundo mágico fosse maravilhoso.Ainda bem que com o tempo percebi o valor do mundo efectivo e passei a vivê-lo verdadeiramente.
O problema é que muitas pessoas não conseguem se desvirtuar da fantasia, já que nelas encontram todas as possibilidades de viver.Isso não quer dizer que na vida delas não existem chances de mudanças, e que elas não podem se transformar naquilo que desejam.Realmente seria muito bom se nossa realidade fosse mágica cheia de aventuras, mas o caso é que não é. E não adianta passarmos a vida inteira sonhando como nossa vida deveria ser, estamos fugindo da nossa própria existência sem ao menos nos dar a chance de construí-la. Desistimos do nosso mais precioso bem por algo utópico.
O fanatismo pelo fantástico tem ocorrido com muita frequência na classe mais jovem,talvez por julgarem que esse mundo não tem graça, mas mesmo assim para mim parece uma contradição. Pensemos...Por que alguém daria mais importância a imaginação de sua vida do que ela própria? O motivo que eu encontro é que as vezes nossa realidade pode ser muito dura e fica mais fácil fugir para dentro de nós mesmos do que enfrentarmos a vida.Contudo, ao mesmo tempo que fugimos para o interior do ser passamos a viver em um processo utópico e alienante. E na minha visão seria contradição tudo isso, pois de certa forma já vivemos em processo alienante na nossa vida externa,ou seja, alienação externa e fuga para alienação interna.
Não que eu ache que quando nos voltamos para o nosso interior estamos nos alienando,pelo contrário, quando me refiro a voltar para si é algo bom porque estamos dando voz a nós mesmos, esquecendo do barulho e da influência externa.E isso é diferente da expressão fugir para o interior, pois essa última é um sistema de fuga que ocorre pela negação da realidade externa,sendo isso nada bom.
Não sou contra a imaginação ou o sonho,só acho que eles são algo que nos dão esperança por alguma coisa melhor, e não a transformação para uma realidade concreta como muita gente faz.Talvez nesse mundo moderno falte um pouco de espaço mágico para os sonhos, é tudo tão controlado e racional.Se fosse para escolher como minha vida poderia ser, eu diria que seria algo celta com batalhas épicas,mas como não é,não vou me vestir de celta e fingir que vivo em outra era.
Mas sei que posso guardar o místico com o heróico em alguma parte da minha vida,fazendo a minha fantasia se tornar um pouco mais real.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Água Viva


"São quase cinco horas da madrugada. E a luz da aurora em desmaio, frio aço azulado e com travo e cica do dia nascente das trevas. E que emerge à tona do tempo, lívida eu também, eu nascendo das escuridões, impessoal, eu que sou it.

Vou te dizer uma coisa: não sei pintar nem melhor nem pior do que faço. Eu pinto um "isto". E escrevo com "isto" - é tudo o que posso. Inquieta. Os litros de sangue que circulam nas veias. Os músculos se contraindo e retraindo. A aura do corpo em plenilúnio. Parambólica - o que quer que queira dizer essa palavra. Parambólica que sou. Não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maças. Eu sou uma cadeira e duas maças. E não me somo.


O que te direi? te direi os instantes. Exorbito-me e só então é que existo
e de um modo febril. Que febre: conseguirei um dia parar de viver? ai de mim que tanto morro. Sigo o tortuoso caminho das raízes rebentando a terra, tenho por dom a paixão, na queimada de tronco seco contorço-me às labaredas. À duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado. Em redor da sombra faz calor de suor abundante. Estou viva. Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites, fronteiras com o quê? sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa. Mas arrisco, vivo arriscando. Estou cheia de acácias balançando amarelas, e eu que mal e mal comecei a minha jornada, começo-a com um senso de tragédia, adivinhando para que oceano perdido vão os meus passos de vida. E doidamente me apodero dos desvãos de mim, meus desvarios me sufocam de tanta beleza. Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. E tudo isso ganhei ao deixar de te amar. "


Fragmentos de Água Viva - Clarice Lispector

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Atitudes




Nada de dor ou flagelação
Cansei de sofrer
Preciso superar e crescer
Arrancar de mim as mágoas do coração

Preciso de um infinito amanhecer
Cansei da tristeza e da solidão
Nada de esperar para viver
Quero arrancar as portas dessa prisão

Cansei de esquecer que existe felicidade
Preciso buscar a minha liberdade
Nada de cárceres inexistentes
Posso arrancar os problemas da minha mente

Nada de esperar
Cansei de esperar
Preciso correr, o tempo está passando
Vou arrancar essa dor que está me matando


Pintura: Picasso - Girl before a mirror

Trilogia da desconstrução III

Nesses traços escassos, retorno no tempo e vejo aquele retrato amarelado sobre a mesa tirado em algum lugar do passado. Sinto o che...